Logo no início o narrador desta história, seu aparente personagem principal, anuncia: "esta é uma história sobre a felicidade". Anuncia ou adverte que em jogo está a "tola felicidade", a "insensata busca da felicidade".
Adverte é bem a palavra. É preciso estar ciente de que se vai ler sobre isso. Borges escreveu em algum lugar: o romance contemporâneo não mais pode ser uma história de sucessos, vitórias e afirmações, matéria hoje apenas para as biografias e os livros de autoajuda. A ficção ficou com o "herói problemático", o fracasso e o beco sem saída.
E no entanto... a felicidade está ao alcance do personagem, que se surpreende com a quantidade de momentos felizes em sua vida. Mesmo quando "a felicidade não é alegre", como viu Godard sugerir num filme.
A forma dessa busca é a de um livro de viagem, gênero clássico e atual em tempos de globalização. As pessoas ficam umas com as outras, como diz o novo eufemismo para o sexo, mas não ficam em lugar algum: estão por toda parte - o que significa, também, em parte alguma. Viraram utopias de si mesmas.
O timbre estilístico deste livro é diferente daquele de romances anteriores do autor. As palavras e frases passam rápidas e breves e os saltos na narrativa são mais frequentes. O tema é a relação entre o homem e a mulher num mundo que desaparece e se altera de um modo inquietante que no entanto parece normal.
O passado é o pano de fundo (com um ano da década de 70 que retorna sempre: 1973, o mesmo do golpe no Chile e de tanta coisa) mas não um problema: o personagem está ancorado num presente que se estende.
É uma jornada, é sentimental e começa já no índice do livro, parte integrante da narrativa que se inicia, ou termina, numa São Paulo sob a neve. Mas não há nada de realismo mágico ou outro clichê vazio aqui, a chave é outra, a epígrafe de Paul Celan dá a melhor pista: Você é minha realidade / Eu sou sua miragem.